sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Sobre a Anhanguera de Bauru migrar para a EaD

As novas tecnologias revolucionaram o modo de vida nas sociedades deste início de Terceiro Milênio. O mundo aprofunda a fase do capitalismo informacional (cf. Manuel Castells, “A sociedade em rede”). Destarte, seria impossível conservar a educação exatamente do jeito antigo, com as carteiras, a lousa, o giz, o professor em pé, os alunos sentados enfileirados, etc. Com tal emergência informacional, ocorrem diversas transformações culturais e surgem também novos instrumentos de interação e de trabalho (cf. Jürgen Habermas, “Técnica e ciência como ideologia”). A educação a distância (EaD), por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), é um desses recentes meios que podem ajudar na administração e democratização dos saberes humanos.

Além da Anhanguera, muitas outras universidades públicas e privadas, no Brasil e mundo afora, estão migrando para a EaD ou para modelos híbridos que revezam o presencial e o on-line. Esse processo já vinha ocorrendo antes da pandemia de Covid-19, mas a expansão do uso profissional e educacional da internet foi ainda mais acelerada pelas experiências digitais da quarentena. Ou seja, não se trata de uma mudança pontual, que interessa apenas a restritos grupos de pessoas, empresas ou governos. A cibercultura é um emergente e globalizado procedimento ético, social, político, tecnológico e econômico que vai marcar profundamente este século XXI e, decerto, ainda mais os séculos vindouros (cf. Pierre Lévy, “A inteligência coletiva”).

Um dos desafios dessa nova realidade, é fazer com que durante a crescente digitalização das relações humanas trabalhistas e escolares se garanta, também, que aumente o respeito e a valorização entre as pessoas. Em meio a tanto, há o desafio de reformular as profissões. Por exemplo, no caso da EaD, os novos professores precisam ser formados para o uso eficiente e humanizado das novas TDICs. Ora, pois mesmo em meio a este agitado e original momento do ensino-aprendizagem, uma certeza básica é possível assegurar: não existe educação de excelência sem excelentes educadores (cf. Paulo Freire, “Cartas a quem ousa ensinar”). É necessário, por isso, garantir a valorização dos ciberprofessores e a sua adequada capacitação.

Mudanças e digitalizações como a da Anhanguera, então, serão cada vez mais comuns na próxima década. Não é exclusivamente a educação que se insere em um mundo on-line, visto que várias outras esferas da vida, pública e privada, têm migrado para uma interação e trabalho por meio de computadores, smartphones, internet, etc. Resta qualificar a forma e o conteúdo dessa nova educação e nova sociedade do Terceiro Milênio, pois, quer por meio de lousas antigas ou digitais, o objetivo da educação democrática ainda é humanizar o aluno, desenvolvendo-o para construir uma digna vida subjetiva, social e profissional.


Artigo disponível em:

https://sampi.net.br/bauru/noticias/2676619/tribuna_do_leitor/2022/12/anhanguera-migra-para-ead

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

José Bonifácio e a independência

Em 7 de Setembro, de 1822, D. Pedro I fez história ao proclamar a independência do Brasil. Mas em seu apoio, nem sempre lembrado, estava José Bonifácio. E foi fundamental a atuação do intelectual e político brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838).

Além de influente durante a Proclamação da Independência, José Bonifácio tinha uma outra característica marcante. Já naquele 1822, ele fazia críticas à escravidão que ocorria em terras brasileiras. Apesar da sua posição, no entanto, a abolição oficial da escravatura aconteceria muito mais tarde, em 1888 – e até hoje inúmeros brasileiros ainda precisam lutar para serem respeitados em sua liberdade mais básica.

As críticas à escravidão feitas por Bonifácio, em meio àqueles anos agitados da independência recém-proclamada, refletem a nova ética que estava ganhando força na Europa. Formalmente, a filosofia registra uma revolucionária oposição ao escravismo com pensadores como o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que, na sua obra Contrato social, dedica capítulo próprio para afirmar que: “o direito de escravidão é nulo, não apenas porque é ilegítimo, mas também porque é absurdo [...] visto que nenhum homem tem qualquer autoridade natural sobre o seu semelhante [...], pois a liberdade é a qualidade que caracteriza o que é um ser humano”.

Tal inovadora ética iluminista foi útil para fazer oposição à escravidão e também para legitimar inúmeras mudanças e revoluções políticas que ocorreram nesses séculos XVIII e XIX, inclusive no Brasil. Ou seja, José Bonifácio tanto quis a independência brasileira quanto não se fechou ao progresso ético e jurídico que estava ocorrendo fora do Brasil. Trata-se de uma postura intelectualmente madura e democrática, a de querer a liberdade para si e também para os outros, querer a independência em relação a Portugal sem, por isso, fechar os olhos para os Direitos Humanos e o republicanismo que tinham começado a ganhar corpo especialmente em países europeus, a exemplo da Revolução Francesa, de 1789.

Para celebrar os duzentos anos da Proclamação da Independência, a educação brasileira atual poderia lembrar com mais atenção da postura de José Bonifácio, a sua participação na libertação do Brasil e, ao mesmo tempo, a sua crítica à falta de liberdade que ainda acometia internamente a muitas pessoas escravizadas em solo brasileiro. Ora, essa é a premissa básica do pacto social sintetizado por Rousseau. A vontade geral do povo é legítima quando afirma aquilo que, na verdade, todos os seres humanos querem: as suas liberdade, vida e dignidade respeitadas.


Artigo disponível em:

https://sampi.net.br/bauru/noticias/2058903/tribuna_do_leitor/2022/09/bonifacio-e-a-independencia

Qual é a relação entre ciência e poder?

O Brasil é o 13° maior produtor de conhecimento científico do mundo, segundo dados recentes, de 2021, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Seria possível pensar, contemporaneamente, em um país muito poderoso, mas sem um grande investimento em ciência? É possível imaginar a expansão europeia ou chinesa sem a sua potente indústria? Acaso os Estados Unidos seriam tão imponentes sem os recursos destinados às suas armas, à sua tecnologia, às suas tradicionais universidades de Harvard, MIT, Stanford?

"O mesmo método científico que pode levar a uma dominação cada vez maior sobre a natureza proporciona, igualmente, uma dominação cada vez mais eficiente do homem sobre o próprio homem", afirma Jürgen Habermas, teórico nascido em 1929, em Düsseldorf, Alemanha, no livro denominado Técnica e ciência como ideologia (capítulo 2, parte I). Há uma relação direta entre a ciência e o poder. Entre o saber acadêmico e o poder político. Deste modo, os países que conquistam maior tecnologia ficam melhor instrumentalizados para dominar, explorar e cultivar a natureza; e com a mesma invenção técnica e científica, tais países conseguem imporem-se econômica e militarmente sobre outros povos.

Não é preciso, então, que haja necessariamente uma guerra para que um determinado país domine a outro. Tal como uma pessoa treinada e armada não tem que agredir fisicamente a uma outra pessoa desarmada para, assim, demonstrar o seu poder de controle. Basta que um país mantenha-se na vanguarda científica, educacional e tecnológica para que o seu poder (em grande medida o seu poder cultural, inclusive) mantenha-se entre os que mais se impõem mundo afora.

Ora, se há poder político e simbólico atrelado ao poder racional e acadêmico, do mesmo modo é verdade que há desempoderamento e fragilização decorrentes do analfabetismo e do negacionismo científico. A ignorância fragiliza um povo e facilita que ele seja explorado, escravizado ou assassinado. Por isso, de um lado há o historicamente conhecido perigo da radicalização cientificista – um risco que pode levar a posturas ditatoriais, imperialistas, e culminar em bombas atômicas e câmaras de gás para genocídio –, de outro lado, enfim, importa que o Brasil lembre-se sempre do valor estratégico, político, econômico e militar, do investimento em ciência, tecnologia e educação.


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https://sampi.net.br/bauru/noticias/2672024/articulistas/2022/12/qual-e-a-relacao-entre-ciencia-e-poder

terça-feira, 11 de outubro de 2022

“Os muros parecem mais altos quando estamos sentados”

A vida social impõe inúmeros riscos ao indivíduo. Não há apenas a proteção e o bem comum dentro do contrato da sociedade. Inevitavelmente, surgem também muitos perigos, tal como foi salientado por diferentes escolas de teóricos sociais, a exemplo de Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 1712-1778).

A convivência social, por isso, exige da pessoa humana triunfos quase que diários sobre a preguiça e o medo. Ora, tratam-se de vitórias sobre si próprio: “Chama-se coragem o fato de um homem vencer a si mesmo”, como diz Tomás de Aquino (Itália, 1225-1274) ao citar Santo Ambrósio.

A vida social, então, é essa casa com muitos muros que precisam ser transpostos. Há desafios e, inclusive, quase nunca falta alguma violência nas famílias, nas empresas, no trânsito, etc. Em meio a tal inevitável condição da vida coletiva, não é sábio, saudável  nem útil que o indivíduo procure acomodar-se, sentar-se em uma tentativa de superproteção ou de negação dos obstáculos que estão por toda parte.

Sentada ou prostrada, a pessoa que sucumbe à preguiça e ao medo agrava assim ainda mais a sua circunstância. A omissão confunde a perspectiva diante da vida e faz imaginar que são até maiores as paredes e portas fechadas que cercam a subjetividade.

O temor turva o olhar. A covardia apequena o sujeito, confunde-o. Por isso, a saída desse conflito depende, antes de qualquer grandeza diante do mundo, de uma esperançosa procura por vencer-se a si próprio. Ou seja, primeiro é necessário agir consigo: saltar por sobre a indolência e abrir espaço em meio ao terror íntimo. Depois, uma vez que “a esperança é a consequência da ação”, como afirma Mangabeira Unger (Brasil, 1947), então a esperança de derrubar os muros que precisam cair enfim surgirá no indivíduo para fortalece-lo.


Artigo disponível em:

https://sampi.net.br/bauru/noticias/2055468/articulistas/2022/10/-os-muros-parecem-mais-altos-quando-estamos-sentados

Sobre a Anhanguera de Bauru migrar para a EaD

As novas tecnologias revolucionaram o modo de vida nas sociedades deste início de Terceiro Milênio. O mundo aprofunda a fase do capitalismo ...